The Irrestible Revolution é um dos livros que ando a ler neste momento. Tem como subtítulo living as an ordinary radical e o autor é um tal de Shane Claiborne. O livro é potencialmente perturbador porque o Shane confronta-nos com várias discrepâncias entre aquilo que a Bíblia diz e aquilo que os cristãos fazem. Mesmo eu, que tenho uma tendência (às vezes exagerada) para não aceitar de mão beijada as interpretações clássicas e tradicionais que se fazem das passagens bíblicas, tenho tido dificuldade em digerir muito daquilo que o Shane escreveu. No seu livro, ele põe em evidência o conformismo e a falta da amor pelo próximo da Igreja. Aponta-nos o dedo de uma forma construtiva e o que é interessante é que a mensagem do Shane não é oca, não é incoerente com a sua vida. Ele é um seguidor de Cristo ousado e radical que decidiu não se conformar com este mundo, mas sim viver uma vida dedicada a amar. Todos nós podemos dizer que vivemos para amar os outros. É bonito, soa bem e parece ser algo que deve andar na boca dos cristãos. No entanto, do falar ao viver a distância é enorme. O Shane percorreu essa distância. Percorreu-a com os sem-abrigo de Filadélfia nos USA e com os leprosos da Índia, onde trabalhou nas missões da Madre Teresa. Percorreu-a ao ir para o Iraque para se opor à guerra e para servir os iraquianos e percorreu-a pela maneira como vive no dia-a-dia, ao serviço dos outros. Para perceberem melhor o tipo de ordinary radical que ele é e que ele diz que todos nós, cristãos, devemos ser, leiam o livro. (Tenho uma versão inglesa e não sei se existe em português. Posso emprestar o meu depois de o ler e reler, se for preciso.) Às tantas o Shane conta que um dos seus amigos um dia chegou ao pé dele e lhe disse que ía deixar o cristianismo. O Shane ficou espantado e confuso porque conhecia o seu amigo e sabia que tinha uma fé radical, tal como ele. O amigo passou a explicar: «Vou deixar o cristianismo e vou passar a seguir Jesus.» A pergunta inquietante que este livro levanta é mesmo esta: e se a maneira como nós estamos a viver o cristianismo não corresponde àquilo que é, na verdade, seguir Jesus?
Para já o livro está a ter vários efeitos colaterais em mim, obrigando-me a rever não só a minha concepção do propósito que deve nortear a vida do cristão mas também as minhas posições face à política, à economia, ao consumismo e à pobreza.
Para já o livro está a ter vários efeitos colaterais em mim, obrigando-me a rever não só a minha concepção do propósito que deve nortear a vida do cristão mas também as minhas posições face à política, à economia, ao consumismo e à pobreza.
2 comentários:
David este teu post deixou-me intrigada e até um pouco confusa... Gostava de perceber melhor quais são as ideias desse senhor! Acho que todos nós vimos que há muitas atitudes nos cristão (inclusivamente nas nossas) que não são de certeza aquelas que Jesus tomaria e não se encaixam no que está escrito na Bíblia. De qualquer modo todos erramos e temos a certeza que podemos sempre recomeçar do zero... Mas o que me deixou muito intrigada foi «Vou deixar o cristianismo e vou passar a seguir Jesus.». E pergunto-me, mas então o que significa ser cristão? ou viver o cristianismo? Ser cristão significa exactamente seguir Cristo. Portanto se tu segues Jesus és cristão e vives o cristianismo, certo? independentemente das regras ou tradições, ou o que queiras chamar, que a Igreja ou pastores da Igreja achem que devemos "cumprir" ou seguir... Não existe um choque entre ambas as coisas... O que faz a diferença é como é que nós, enquanto cristãos (ou seja, seguidores de Jesus), procuramos viver cada dia de acordo com essa nossa escolha. E isso implica muitas, muitas coisas... Sei que o modo como interpretamos as passagens da Bíblia nem sempre pode ser a mais adequada, mas o mais importante é procurar perceber, com aquilo que Jesus nos disse à mais de 2000 anos, é como é que nos dias de hoje podemos viver a Sua palavra (o que não é fácil...). Gostava de ler esse livro, é claro que o preferia em português, coisa que não deve existir.. Mas enfim, fiquei muito curiosa!
Espero que também não fiques demasiado confuso com tantas questões que te surgem e te fazem pensar e rever tantas coisas. Mas que elas sirvam para te ajudar a compreender melhor aquilo que és e aquilo em que acreditas... O mais importante é não perder demasiado tempo e procurar viver bem cada coisa, cada momento e as respostas chegarão.
Tem cuidado, sim!
Beijinhos
Yap, cristão significa "seguidor de Cristo". Mas nós reformulamos o cristianismo; adaptamos os ensinos de Jesus à nossa vontade; pomos em evidência certas partes da Bíblia e fechamos os olhos a outras partes ao sabor da nossa conveniência; somos tremendamente conformados com o estado do mundo e esquecemo-nos que estamos aqui para ser sal e luz e não para ser apenas mais alguns que vão com a corrente. Estou a falar no plural mas sei que nem todos somos iguais. Uns são mais susceptíveis de cair nestes erros do que outros. Eu caio em todos eles constantemente e creio que em parte a culpa é minha e em parte a culpa é do cristianismo que me "venderam". Considero que em muitas coisas não estou a seguir Jesus da maneira que queria. É, portanto, altura de deixar para trás alguma da bagagem que trago comigo da minha educação e de procurar através da Bíblia (não há melhor mapa do que a Bíblia) compreender e viver um cristianismo total, radical, a 100%, sem reservas.
Não te preocupes, não me estou a passar e não ando com dúvidas existenciais perigosas. Estou a ser confrontado com a minha própria descoberta pessoal do Amor de Deus e dos ensinos de Jesus. E acredito que isto é o melhor que me pode acontecer, mesmo que implique que a minha mente seja ciclicamente abanada por furacões.
A ideia de que o cristão é um tipo completamente coerente, cujos pensamentos estão perfeitamente alinhados numa ordem quase-matemática é uma falácia... é normal passarmos por fases de extrema incoerência e perplexidade provocadas pela descoberta da extravagante e misteriosa graça de Deus.
Beijinhos
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