16.10.09

Manso e suave

Vivemos num mundo onde a publicidade é rainha. Qualquer marca, empresa, filosofia, evento, entidade política, desportiva ou relogiosa encontra no marketing uma arma poderosa para alienar pessoas. A cada dia somos bombardeados por diversos tipos de convites. Convites ao consumismo, convites de ideias sedutoras, convites para termos, para sermos, para fazermos... O barulho é ensurdecedor e as pessoas andam sem rumo, num esforço hercúleo, mas caótico, para satisfazer todos os convites. A quantidade de informação e de vozes à nossa volta é tão grande que se torna tarefa difícil discernir aquilo que nos convém, perceber quando devemos dizer "sim" e quando devemos responder "não". O nosso carácter é atropelado pelos convites da sociedade, pelo excesso de oferta. Por vezes, dizer "sim" significa dar uma parte de nós, arrancar um pedaço da nossa identidade.

Entretanto, há um convite constante que nós ignoramos. O apelo de Jesus! Muitas vezes não o ouvimos, pois permanece abafado pelos ruídos à nossa volta. Outras vezes ouvimos o seu sussurro, mas adiamos a resposta e preferimos responder primeiro a milhares de convites que parecem mais sedutores - mas são supérfluos e, eventualmente, prejudiciais.

Mas, ainda assim, Ele chama-nos constantemente para termos comunhão com Ele. Para nos entregarmos nos seus braços de amor. Não nos força, não usa o marketing, nem a publicidade enganosa, não entra nesse jogo. Pelo contrário, chama-nos com uma voz suave e amorosa e tem como logótipo uma rude cruz de madeira, desprovida de beleza. Talvez tenhamos dificuldade em reconhecer a sua voz. Mas Ele continua a chamar por nós, anelando pelo momento em que nós o escutamos e, finalmente, corremos para Ele dizendo simplesmente "aqui estou eu".

Como diz a letra do antigo hino "Manso e suave, Jesus está chamando..." Podemos responder a este apelo de várias formas. Podemos rejeitar, continuar a adiar a resposta, fingir ouvidos moucos... ou aceitar. Aceitar sabendo este é o único apelo ao qual podemos dizer "sim" certos de que não vai ser arrancado nenhum bocado da nossa identidade... pelo contrário, é nos braços de Jesus que a nossa identidade se completa e que nos sentimos plenamente realizados!

E tu, qual tem sido a tua resposta quando Jesus chama por ti?

4 comentários:

Hugo Tavares disse...

Também tu fazes publicidade a Jesus :)

David disse...

Bem observado Hugo! =) E de certa forma isso é parte da missão dos cristãos: anunciar o amor de Jesus. Mas eu não gosto da ideia de "vender" Jesus como se se tratasse de mais um produto. Tento apenas partilhar com os outros aquilo que sinto e aquilo em que acredito sem querer alienar as pessoas. Talvez por vezes me falte a sabedoria para fazer isso e acabo por cair no tal marketing que condeno neste poste. E esse não é um problema só meu, é um problema das igrejas em geral. Mas lá está, as igrejas são compostas por pessoas imperfeitas, cujas boas intenções nem sempre são bem executadas na prática.

Hugo Tavares disse...

Agora que respondeste, vou-te confessar que há uma coisa que não gosto no teu post. Esta:

"Podemos responder a este apelo de várias formas. Podemos rejeitar, continuar a adiar a resposta, fingir ouvidos moucos... ou aceitar."

A certeza que há um chamamento para todos (e quem tem outra religião, sente também o chamamento de jesus?), e uma espécie de acusação, de imposição de sentimento de culpa a quem não o aceita. Mostras várias formas de responder ao apelo, e só uma está correcta, as outras têm uma conotação muito negativa. Eu sei que não era isso que querias passar, mas se releres com atenção o que citei, vais ver que é um pouco assim.

Como é que tu sentes o chamamento de Jesus? Eu nunca o senti. Acho a sua história bonita, os valores cristãos (quase todos) bonitos, mas nunca consegui acreditar a 100%, nem me sentir pior por isso.

Uma pergunta muito pessoal: Já alguma vez tiveste dúvidas? Como é que vives a religião? Vê-la como uma coisa completamente certa, ou ela dá-te um modo satisfatória para encontrar um sentido e uma ordem no mundo?

David disse...

Ena tantas perguntas! Desculpa só estar a responder agora, mas o fim-de-semana foi ocupado e no pouco tempo que tive livre estava demasiado cansado para responder às tuas questões com a lucidez que elas exigem.

Antes de começar a tentar responder às tuas questões é preciso estabelecer uma premissa: tudo o que envolve Deus, envolve também uma componente de fé e envolve convicções que não são passíveis de ser confirmadas usando apenas argumentos lógicos. Eu costumo dizer que a fé e a lógica de certa forma se completam. Não são incompatíveis.

Usando apenas os dados provenientes da ciência e da maior parte das minhas experiências empíricas, não encontro argumentos suficientes para validar e comprovar as minhas convicções em relação a Deus. Não as posso deduzir como se se tratassem de teoremas. Por isso essas convicções podem ser questionadas e estão sujeitas à dúvida. É aí que a fé intervém: ajuda a cimentar as convicções e a transformá-las em certezas.

Ter fé é, inicialmente, uma escolha. Eu escolho ter fé. Não é preciso ter muita fé e não ter dúvidas nenhumas. Já desisti de ter as ideias todas arrumadas e coerentes na minha cabeça. Não procuro ter uma explicação para tudo.

E sim, eu tenho muitas dúvidas.

Não duvido que haja um ser superior ao qual chamamos Deus e acredito que esse Deus se preocupa connosco. A partir do momento em que acredito nisto, o cristianismo faz todo o sentido. Mais do que uma religião (um caminho construído pelo homem para se relacionar com Deus), aquilo que eu vejo no cristianismo (ou se quiseres, na Bíblia, é "o" caminho construído por Deus para se relacionar com o homem.

Perguntas e bem: então e as outras religiões? Às vezes também penso nisso... Mas como disse, eu não acredito na religião. Acredito que é possível ter uma relação com Deus através de Jesus e não sei até que ponto os praticantes de uma religião podem ou não estar a relacionar-se com Deus mesmo que conscientemente não percebam que o estão a fazer através do sacrifício de Jesus. Essa é uma questão que me causa dúvidas.

Bom, sei que ainda não respondi a tudo, mas vou tentar fazê-lo nos próximos dias. Por agora tenho que parar.

Deixo apenas um conselho: talvez não seja o teu tipo de literatura, mas se puderes lê um livro chamado A Cabana, um romance que está em voga cá em Portugal. Podes encontrá-lo na FNAC, por exemplo. Apresenta respostas muito melhores do que aquelas que eu consigo dar. Apresenta o plano de Deus para o homem tal como eu acredito nele. As igrejas têm tido, ao longo da história, dificuldade em transmitir esse plano e muitas vezes deturpam-no.

E já agora acho que é importante tentar responder à questão que lanças no final:

«Vê-la como uma coisa completamente certa, ou ela dá-te um modo satisfatória para encontrar um sentido e uma ordem no mundo?»

Aquilo que eu tenho como certo e que é essencial para mim é o seguinte: Deus ama-me, quer relacionar-se comigo e exprimiu esse amor através da vida, da morte e da ressurreição de Jesus. Para além disto há coisas (dogmas) que me causam mais confusão que outros. Há uns que me são mais queridos que outros. Mas isso varia de cristão para cristão, porque depende da sensibilidade e da maturidade de cada um e, para mim, esses dogmas não são essenciais.

Sim, a "religião" como lhe chamas (eu prefiro chamar-lhe simplesmente fé e/ou relacionamento) é essencial para eu encontrar um sentido para a vida e para o mundo. E sobre isto há tanto a dizer, que prefiro não começar a responder agora. Fica para a próxima, amanhã talvez.