7.1.10

Não te leves muito a sério

Pensei muito hoje. Penso muito todos os dias. A matemática obriga-me a fazer do raciocínio a minha principal ferramenta de trabalho. Paralelamente, no meu tempo livre, tenho-me dedicado a ler coisas muito difíceis de assimilar. Torno-me introspectivo e mergulho frequentemente em prolongados períodos de reflexão profunda e, às vezes, esgotante. Não sei se foi a matemática que me moldou e me levou a gostar de filosofia (se é que se pode chamar filosofia ao conteúdo daquilo que leio e aos devaneios que resultam dessas leituras) ou se este gosto cresceu apenas motivado pela necessidade que tenho de obter respostas para as cenas. Gosto de pensar. Gosto quando do nada, como um raio, surge uma ideia que clarifica uma dúvida ou que responde a uma ansiedade da alma ou que é, simplesmente, uma ideia divertida. Mas é igualmente delicioso quando a ideia é construída, em vez de ser repentina. Às vezes é necessário cozinhar uma ideia em lume brando durante dias ou semanas, até que ela sejam comestível! Talvez o meu background não tenha servido de incentivo para pensar pela minha própria cabeça e tenha atrasado um pouco a minha faceta de "pensador". Mas nunca é tarde para começar e, actualmente, pensar é uma actividade que eu saboreio com carinho.

Mas como já referi, pensar pode ser esgotante. Já dizia Salomão que "não há limite para fazer livros e o muito estudar é enfado da carne." Agora que o dia se aproxima do fim e a minha lucidez ameaça apagar-se, da mesma forma que a chama de uma vela treme enquanto a cera derrete, fico feliz por poder deixar o meu pensamento adormecer. Deixo-me embalar pelos sentidos e pelas emoções, sem as submeter ao escrutínio da razão. E são estes momentos que equilibram a minha sanidade e a minha qualidade de vida. Os momentos em que rio sem motivo e canto e danço sozinho no quarto ao som da minha banda sonora do momento. Hoje deixo-me inebriar pelo Michael Bublé, a Jacinta e o Phil Driscoll, a cantar temas como Come Fly With Me, Don't Worry Be Happy e Dance and Sing. Quando a música cala, já escuto o sussurro da almofada a chamar por mim, qual sereia a tentar enfeitiçar um homem do mar. Creio que, dentro de instantes, será com prazer que me entregarei de corpo e alma a esse feitiço. Mas, antes de partir, gostava de dar a estas linhas uma conclusão com nexo e que vos levasse a abrir a boca de espanto (ou de sono!) exclamando para vós mesmos "Que brilhante raciocínio, David!".

Qual é a conclusão? Bom, avancemos então para ela - aquela que me é possível expor, já com a minha capacidade de raciocínio e concentração totalmente eclipsada pela escuridão da noite. A introspecção em demasia é perigosa e infrutífera. Alberto Caeiro dizia que "Pensar é estar doente dos olhos" e eu às vezes sou tentado a dar-lhe razão, pelo menos parcialmente. Ainda que pensar traga benefícios e seja até um hábito inerente ao cristianismo (ao contrário do que muita gente pensa - vide Romanos 12:2), pensar em demasia não é saudável e impede que apreciemos muitas coisas bonitas da vida que não se alcançam mediante esforço intelectual, mas sim através dos sentidos! Pensar muito trava a espontaneidade. Não quero cair no erro de levar a vida demasiado a sério. Não quero cair no erro de me levar demasiado a sério.

1 comentário:

Bianca disse...

ups... dei de caras com o teu blog,nas minhas passeatas por terras alheias...

e gostei, muito até!

principalmente, da dicotomia entre pensar muito e pensar demasiado,tenho feito essa viagem vezes e vezes sem conta,mas nunca consigo chegar ao destino..talvez um dia!

até lá... levemo-nos a sério, mas com calma:)

beijnhos