"E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo" Mateus 27:50-51
Não sei se isto faz algum sentido para vocês, mas houve uma fase da minha vida em que eu era dominado pela ideia absurda de que referir Deus e referir um assunto corriqueiro na mesma frase seria uma espécie de heresia. Guiava os meus pensamentos em duas estradas paralelas, não deixando que elas se intersectassem: uma para discorrer sobre Deus e sobre a fé e outra para todos os outros assuntos.
Tinha uma tendência para isolar o divino numa espécie de redoma que tentava preservar longe da contaminação das coisas banais da vida. Criei um compartimento inacessível e arrumei lá cuidadosamente tudo aquilo que dizia respeito à minha fé, não dando conta que esse compartimento, criado com um pudor tão exagerado e, até, disparatado, se tornou também inacessível a mim próprio. Tentava aceder a esse compartimento criando uma auto-imagem melhorada daquilo que eu era na realidade. Fingia uma santidade absoluta que não é real (porque a santidade é muito mais um caminho do que um estado), simulava incorruptibilidade, usava máscaras e artimanhas, vestia a pele dos fariseus que Jesus tanta vez criticou, e não dava conta que, agindo assim, estava a enganar-me a mim próprio.
Hoje percebo que separar Deus do resto da minha vivência não só é desnecessário, como é mesmo prejudicial. Deus não se quer relacionar com cópias melhoradas de nós próprios. Ele quer relacionar-se connosco tal como somos, por mais fúteis, patetas e incoerentes que sejamos.
O David que acredita que Jesus é a resposta para a maior ansiedade e necessidade do homem é o mesmo que é adepto do Benfica; é o mesmo que gosta de acompanhar de longe a vida política e de criar piadas sobre a incompetência dos políticos; é o mesmo que dança ao som de Jamiroquai e adormece ao som da Norah Jones; é o mesmo que gosta de uma cerveja fresca numa esplanada sob o entardecer de um dia de verão (enquanto se conversa sobre o amor de Deus, porque não?), é o mesmo que às vezes solta uma gargalhada quando Os Contemporâneos fazem humor que envolve a Bíblia, é o mesmo que tem períodos de desalento que o levam a questionar até mesmo aquilo que é inquestionável, é o mesmo que por vezes é atormentado pela dúvida sobre o certo e o errado, é o mesmo que, ainda que pretendendo servir os outros e viver uma vida altruísta, é levado com frequência a atitudes egocêntricas... e é o mesmo que Deus ama "furiosamente"!
Não sei se isto faz algum sentido para vocês, mas houve uma fase da minha vida em que eu era dominado pela ideia absurda de que referir Deus e referir um assunto corriqueiro na mesma frase seria uma espécie de heresia. Guiava os meus pensamentos em duas estradas paralelas, não deixando que elas se intersectassem: uma para discorrer sobre Deus e sobre a fé e outra para todos os outros assuntos.
Tinha uma tendência para isolar o divino numa espécie de redoma que tentava preservar longe da contaminação das coisas banais da vida. Criei um compartimento inacessível e arrumei lá cuidadosamente tudo aquilo que dizia respeito à minha fé, não dando conta que esse compartimento, criado com um pudor tão exagerado e, até, disparatado, se tornou também inacessível a mim próprio. Tentava aceder a esse compartimento criando uma auto-imagem melhorada daquilo que eu era na realidade. Fingia uma santidade absoluta que não é real (porque a santidade é muito mais um caminho do que um estado), simulava incorruptibilidade, usava máscaras e artimanhas, vestia a pele dos fariseus que Jesus tanta vez criticou, e não dava conta que, agindo assim, estava a enganar-me a mim próprio.
Hoje percebo que separar Deus do resto da minha vivência não só é desnecessário, como é mesmo prejudicial. Deus não se quer relacionar com cópias melhoradas de nós próprios. Ele quer relacionar-se connosco tal como somos, por mais fúteis, patetas e incoerentes que sejamos.
O David que acredita que Jesus é a resposta para a maior ansiedade e necessidade do homem é o mesmo que é adepto do Benfica; é o mesmo que gosta de acompanhar de longe a vida política e de criar piadas sobre a incompetência dos políticos; é o mesmo que dança ao som de Jamiroquai e adormece ao som da Norah Jones; é o mesmo que gosta de uma cerveja fresca numa esplanada sob o entardecer de um dia de verão (enquanto se conversa sobre o amor de Deus, porque não?), é o mesmo que às vezes solta uma gargalhada quando Os Contemporâneos fazem humor que envolve a Bíblia, é o mesmo que tem períodos de desalento que o levam a questionar até mesmo aquilo que é inquestionável, é o mesmo que por vezes é atormentado pela dúvida sobre o certo e o errado, é o mesmo que, ainda que pretendendo servir os outros e viver uma vida altruísta, é levado com frequência a atitudes egocêntricas... e é o mesmo que Deus ama "furiosamente"!
A separação entre o sagrado e o profano é uma herança de outros tempos e de outras mentalidades. Uma herança de uma religiosidade beata que exclui a beleza da graça. A graça é bela porque é oferecida a homens e mulheres reais, autênticos, humanos, que se emocionam, que são incoerentes, às vezes fúteis, às vezes despropositados... como eu.
Mais uma vez digo: não sei se isto faz sentido para vocês. Temo que não tenha conseguido alinhar estas ideias de modo a dar-lhes algum nexo e torná-las perceptíveis. Mas eu sei o que estou a tentar transmitir e é algo que para mim é muito, mesmo muito, pertinente. Talvez faça um remake ou uma segunda parte deste texto brevemente.
adaptado de um texto escrito originalmente em Julho de 2009 para o meu antigo blogue e parcialmente inspirado numa frase bombástica do Blue Like Jazz, quando uma amiga de Don Miller lhe estava a contar como aconteceu a sua conversão a Cristo: "We would eat chocolates and smoke cigarettes and read the Bible, which is the only way to do it if you ask me. Don, the Bible is so good with chocolates."
1 comentário:
Quando quiseres serás muito bem vindo aqui em Boston na Assembleia de Deus Aliança. Podes vir como membro com plenos direitos e deveres. Todos aqui pensamos da mesma maneira, tirando a parte da cervejinha. Abraço do Pr.Carlos Ferreira, teu amigo.
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