Apresento as minhas desculpas: na ausência de tempo e/ou inspiração para a escrita, encher o blogue com citações revela falta de originalidade. Mas considero estas citações pertinentes e já que a maioria dos leitores do blogue não estará na disposição de ler um livro do Shane Claiborne, confronto-vos pelo menos com algumas das suas afirmações que mais mexeram comigo.
Entretanto estou a ler outro livro dele, desta vez em co-autoria com John Perkins. Hoje na minha rotineira viagem de comboio, após ler algumas páginas do livro, dei por mim a pensar que o problema dos cristãos e o problema das igrejas é que passamos o tempo preocupados em falar do cristianismo. Apontamos as doutrinas básicas que qualquer cristão deve entender e aceitar como dogmas. Estudamos e discutimos as passagens bíblicas ao sabor da interpretação que mais nos convém e entramos em confronto com outros grupos de cristãos cuja interpretação é diferente da nossa. Há multidões a falarem de cristianismo... e muito poucos a viverem o cristianismo. Cada vez estou mais convencido de três coisas:
1) O cristianismo tem pouco a ver com uma boa parte daquilo que constitui a mensagem das igrejas ditas cristãs. Num dos muitos livros que li ultimamente (neste momento não me lembro qual) li um pensamento curioso: se tentássemos fundar uma religião cujos ensinos fossem opostos aos de Jesus, encontraríamos uma religião muito parecida com o cristianismo que conhecemos, o cristianismo "ocidentalizado", feito à nossa medida... Esta é uma opinião exagerada, mas é triste verificar que tem o seu quê de verdade. É por isso que faz sentido dizer aquilo que um amigo do Shane Claiborne um dia lhe disse: «Vou deixar o cristianismo e vou passar a seguir Jesus.»
2) Há princípios essenciais que devem constituir os pilares da fé de qualquer cristão. Mas não são tão complexos assim e atrevo-me até a dizer que, se for necessário, podemos resumi-los facilmente num versículo ("Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna." João 3:16). Para além do essencial, há muita coisa que é acessória. Há muita doutrina que pode servir de edificação para alguns cristãos mas que para outros não passará de um fardo a fazer peso sobre a sua fé. Longe de mim sugerir que a igreja não doutrine os crentes. O que sugiro é que essas doutrinas sejam alvo de análise nas igrejas, sejam estudadas, explicadas e assimiladas sem imposição. E que se permita que os crentes duvidem e questionem, em vez de se verem sobrecarregados com dogmas obrigatórios.
3) É muito perigoso e infrutífero ficarmos presos a discussões sobre o cristianimo com aqueles que têm visões diferentes das nossas. Essas discussões são estereis. O cristianismo não é para ser discutido, é para ser vivido. Ser cristão não é acreditar numa lista infindável de dogmas. Ser cristão é ser seguidor de Cristo. Ou, dito de uma forma, mais profunda, ser cristão é ser as mãos, os pés, os olhos, a voz de Cristo na terra. Podemos falar muito do cristianismo, mas só somos cristãos quando passamos à prática. O mundo não precisa de igrejas cheias de gente que julga saber muito bem o que é ser cristão. O mundo precisa de seguidores de Cristo.
Sem comentários:
Enviar um comentário