3.11.08

Ser Cristão II

Tentei resumir aqui o que significa ser cristão e, neste segundo post, pretendo desenvolver o primeiro ponto. Ser cristão começa por "reconhecer que precisamos de Deus nas nossas vidas e aceitar que é a morte de Jesus na cruz que permite a reconciliação do homem com Deus". A acção de Deus na vida das pessoas é catalisada por dois factores que se desenvolvem em nós, pelas circunstâncias da vida, quando somos honestos, quando reconhecemos que há um vazio no nosso coração que só pode ser preenchido por Ele. Os dois factores de que falo são a necessidade e a fé. 

Deus deu-nos as faculdades necessárias para tomarmos as nossas próprias decisões. Ele jamais obrigará uma pessoa a agir e a viver segundo a sua própria vontade. Ele nunca nos forçará a acreditar nele. Ele deu-nos o livre arbítrio e a consciência que nos pode ajudar a distinguir o certo do errado, o verdadeiro do falso. Daí que o primeiro passo para estabelecer uma relação com Deus deva ser dado pelo homem. Um passo motivado pela necessidade e movido por uma fé que, inicialmente, pode até ser frágil, como uma pequena semente, mas que, com o tempo, cresce e frutifica. Porque é o homem quem escolhe o seu caminho e é o homem quem escolhe abraçar ou rejeitar a fé. Existe uma frase feita que exprime bem aquilo que Deus deseja que aconteça com cada um de nós: "dá um passo na direcção de Deus e Ele correrá para ti!". 

Jesus contou diversas parábolas que podem ser aplicadas às nossas vidas e uma das mais conhecidas é a parábola do filho pródigo (Lucas 15). Um rapaz que pede ao pai a sua parte da herança para sair de casa e viver a vida desfrutando da riqueza efémera de que dispõe. Quando o dinheiro se esgota, o rapaz é abandonado e torna-se um miserável. Ganha a vida a guardar porcos, desejando alimentar-se com a comida dos animais. Até que percebe que em casa do pai qualquer empregado levava uma vida melhor do que aquela que ele estava a levar e decide voltar para casa, para rogar ao pai que o aceite como um empregado. O pai, que amava o filho com um amor imenso, no dia em que vê, ao longe, o seu filho a regressar a casa, corre ao encontro dele, abraço-o, aceita-o como filho e festeja o seu regresso com alegria. É isto que Deus quer fazer conosco. Ele ama-nos muito e espera ansioso que nós "voltemos a casa". Mas somos nós que temos que tomar essa decisão. E assim que Ele nos vir, ao longe, a dar um passo na Sua direcção, Ele vai correr para nós e vai aceitar-nos como seus filhos.

No entanto, tornar-mo-nos cristãos e sermos cristãos não é algo que se esgote num episódio esporádico de revelação espiritual. Não é um "acontecimento" ou uma "fase". É algo que deve passar a ser a essência da nossa vida. Cristão significa "seguidor de Cristo" e ser cristão significa ser a cada dia mais parecido com Jesus. É um processo contínuo, que deve durar toda a vida, durante o qual a nossa fé se vai aperfeiçoando e o nosso carácter vai sendo moldado por Deus. Mas não quero com isto dizer que o cristianismo implica uma luta individual contra nós próprios, em busca da tal perfeição quer a nível de fé, quer a nível de carácter. O cristianismo implica uma luta contra nós próprios, sim! Implica uma negação daquilo que somos, enquanto seres humanos falíveis e que cometem erros quase à mesma velocidade com que respiram. Mas essa luta não é individual: é uma luta que já está ganha à partida porque Deus está conosco e por Ele somos vencedores. «Mas a nossa vitória é total no meio de todas essas coisas, e isso devido a Cristo, o qual nos amou a ponto de morrer por nós.» (Romanos 8:37). Desde o momento em que damos o primeiro passo na Sua direcção e Ele corre para nós, Ele não nos abandona. O seu amor e a sua graça já fizeram na cruz aquilo que nós não podíamos fazer e esse amor e essa graça continuarão a fazer na nossa vida aquilo que não formos capazes. O cristianismo é a resposta para o vazio que existe no coração do homem porque implica uma vida acompanhada por Deus. Ele não nos deixa sozinhos: cuida de nós, sara os nossos corações tantas vezes magoados pela vida, leva-nos a realizar obras e sonhos que, pelas nossas próprias forças, nunca conseguiríamos realizar... 

Talvez alguém ao ler este texto se pergunte: "Ok, dizes que a fé um catalisador para a acção de Deus na vida do homem. Mas fé em quê, exactamente?". Pois quero ocupar as últimas linhas deste post a tentar responder a esta questão. Para tal, vou voltar à frase inicial: "... é a morte de Jesus na cruz que permite a reconciliação do homem com Deus." Esta é a base da fé do cristão: acreditar e aceitar a morte de Jesus como o ponto central da história. Há muitas outras doutrinas ou dogmas defendidos por alguns grupos cristãos. Mas a fé na morte de Jesus e na sua posterior ressurreição é a única condição necessária e suficiente para termos uma fé cristã. Há quem diga que se tivessemos que resumir a mensagem da Bíblia em poucas palavras, podíamos escolher o versículo João 3:16: «Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu único filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.» E se aceitarmos que Jesus é o caminho que nos leva ao conhecimento de Deus e acreditarmos que este versículo contém a essência da mensagem de Deus aos homens, então está dado o primeiro passo para sermos cristãos.

(Nota: é natural que nestes posts acabe por misturar um pouco os três tópicos de que falei aqui, porque o processo não é linear ao ponto de os poder tratar como assuntos distintos.)

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