24.5.09

Literatura Cristã

Na quinta feira comprei alguns livros de escritores cristãos. Tenho tido vontade de ler acerca da graça e do amor de Deus. Deus é, em essência, amor. E essa mensagem é tão poucas vezes difundida nas igrejas... preferimos falar de outros atributos de Deus, que são importantes mas que, ao serem tão enfatizados, acabam por ofuscar a mensagem central da Bíblia: o amor de Deus, aquilo que Ele fez por nós e aquilo que Ele quer ser para nós. A sociedade em que vivemos e a forma como fomos educados leva-nos a centrar numa versão parcial do evangelho: realçamos as regras e criamos uma aura de dureza e de juíz implacável à volta de Deus, esquecendo a sua magnífica graça. E eu sinto que preciso de aprender mais acerca dessa graça. Por isso resolvi "investigar" a literatura cristã a esse respeito, começando por alguns escritores conceituados no meio evangélico. Comprei os seguintes livros:
  • O Evangelho Maltrapilho, de Brennan Manning
  • Graça Maravilhosa, de Philip Yancey
  • Muito mais do que palavras, de Philip Yancey
  • Surpreendido Pela Alegria, de C.S. Lewis
Nos próximos tempos estes livros devem dar origem a algumas reflexões aqui no blog e alguns excertos dos livros devem passar por aqui.

17.5.09

I am yours




Who am I?
That the Lord of all the earth,
Would care to know my name,
Would care to feel my hurt.
Who am I?
That the bright and morning star,
Would choose to light the way,
For my ever wandering heart.

Bridge:
Not because of who I am,
But because of what you've done.
Not because of what I've done,
But because of who you are.

Chorus:
I am a flower quickly fading,
Here today and gone tomorrow,
A wave tossed in the ocean,
A vapor in the wind.
Still you hear me when I'm calling,
Lord, you catch me when I'm falling,
And you've told me who I am.
I am yours.
I am yours.

Who am I?
That the eyes that see my sin
Would look on me with love
And watch me rise again.
Who am I?
That the voice that calmed the sea,
Would call out through the rain,
And calm the storm in me.

Not because of who I am,
But because of what you've done.
Not because of what I've done,
But because of who you are.


I am a flower quickly fading,
Here today and gone tomorrow,
A wave tossed in the ocean,
A vapor in the wind.
Still you hear me when I'm calling,
Lord, you catch me when I'm falling,
And you've told me who I am.
I am yours.

9.5.09

A fronteira entre devoção e loucura

Frequentemente, pessoas não cristãs colocam-nos a seguinte pergunta: se realmente existe um Deus que nos ama, porque é que Ele nos obriga a rezar, a ir à igreja e a cumprir uma série de rituais e/ou deveres que restringem a nossa liberdade? Reconheço uma lógica implícita neste raciocínio e reconheço até que é uma lógica válida e que pode ser fortalecida pelo estudo da história do cristianismo ou pela simples observação de muitos rituais religiosos que ainda permanecem bem enraizados na nossa sociedade.

Mas se a pergunta é pertinente, existe também uma resposta que (acho eu) é igualmente lógica e que vou tentar expor nas próximas linhas.

Começo por dizer que muitas pessoas que vêem o cristianismo de fora não chegam a tomar conhecimento daquilo que ele é realmente. E, não querendo ofender ninguém, atrevo-me também a dizer que muita gente que se diz cristã também não sabe o que é o cristianismo. Ou porque nunca lhes explicaram ou porque, mesmo sabendo o que é, preferem viver um pseudo-cristianismo moldado aos caprichos e às ideias do homem. O cristianismo não tem nada a ver com rituais ou tradições complicadas. Ser cristão não é como seguir um manual de instruções sem sentido, pensando que dessa forma compramos a nossa salvação, a nossa paz, a nossa felicidade ou a nossa vida para além da morte. O cristianismo não é uma troca de favores ou um negócio entre o homem e Deus.

Da forma como eu vejo as coisas, o cristianismo nem sequer é uma religião. Esta pode parecer uma opinião fundamentalista, mas é esta a opinião que melhor espelha aquilo em que acredito: as religiões são os caminhos que o homem inventou ao longo da história para tentar conhecer Deus; o cristianismo foi o caminho que Deus deu ao homem para que o homem o possa conhecer.

É por isso que não reconheço em Deus qualquer vestígio de crueldade ou injustiça. Porque para ser cristão não é preciso viver preso a um conjunto de regras irracionais, sacrificando a nossa liberdade de modo a subirmos mais um degrau na escada que nos leva a Deus. Não é disso que se trata o cristianismo. Se assim fosse, ser ou não um bom cristão seria resultado de uma espécie de selecção natural que favoreceria as pessoas com mais capacidade para o masoquismo. A mensagem do cristianismo é a de que, através do sacrifício de Jesus, o homem tem, se assim o desejar, livre acesso a uma relação com Deus, sem que seja necessário qualquer sacrifício adicional. É como se, ao reconhecermos Jesus como «o caminho, a verdade e a vida», Ele nos pegasse ao colo e nos levasse ao topo da escada, junto de Deus. Não é necessário o nosso próprio esforço para subirmos mais degraus. Ele põe-nos logo lá em cima!

A história do cristianismo está repleta de episódios macabros. Muita gente mal intencionada abusou da boa-vontade e da ignorância dos crentes, impondo regras e costumes opressores. Mesmo no tempo de Jesus, havia o grupo dos fariseus, gente letrada e extremamente religiosa que influenciava negativamente a forma como os judeus praticavam o judaísmo. A história das várias correntes cristãs conta acerca de grupos que, seguindo a onda dos fariseus, deturparam a mensagem central do cristianismo. Alguns dos episódios mais tristes das sociedades ocidentais desenvolveram-se baseados nessa mensagem deturpada: as cruzadas, a inquisição, a escravatura...

Acerca da história do cristianismo sugiro o filme Luther, que conta a vida de Martinho Lutero. Um padre que percebeu que aquilo que a igreja do século XVI pregava não tinha nada a ver com o evangelho que Jesus pregava e que, por ter lutado contra as tradições da igreja, acabou por tornar-se uma das personagens mais importantes da história do cristianismos, dando origem a muitas igrejas protestantes e também obrigando a uma inevitável reforma na própria igreja católica, ainda que muito atrasada.

Mas não pensemos que as tradições macabras e desumanas (se virem o filme ficam a saber melhor do que estou a falar) aconteceram apenas no passado, numa época ainda muito medieval. Ainda hoje há ignorância suficiente para se praticarem os actos mais horrorosos em nome do cristianismo. Este vídeo é um exemplo disso:







Também podia pôr aqui este... mas é realmente horrível (não aconselhado a pessoas sensíveis). Obviamente a igreja católica já há muito tempo se distanciou desta prática absurda levada a cabo pelos "cristãos" das Filipinas. Mas até que ponto é que as peregrinações não são também práticas masoquistas e inúteis? E até que ponto não são também inúteis as regras e todos os rituais aos quais os cristãos são, muitas vezes, obrigados a submeter-se? E as rezas repetidas n vezes apenas por tradição? E para não pensarem que este post é um manifesto anti-católico (não o é; este post é antes de tudo, uma tentativa de responder à pergunta lá de cima. E se tem alguma coisa de manifesto, é um manifesto anti-tudo aquilo que deturpa a mensagem da Bíblia, seja católico, protestante ou qualquer outra variante...) deixem-me pôr aqui no mesmo saco os "sacrifícios financeiros". Aliás, no tempo de Lutero essa era uma das formas de opressão favoritas por parte da igreja. Exigir dinheiro para a salvação, cura ou resolução dos problemas. Hoje em dia há por aí muitas igrejas ditas evangélicas que anunciam bençãos financeiras para os crentes. Os apóstolos desta triste ideologia incentivam os crentes a darem dinheiro à igreja levando-os a acreditar que dessa forma Deus retribuirá e dar-lhes-à prosperidade.

(Abro aqui um parêntesis para dizer que eu frequento uma igreja que se diz evangélica, mas que tem muito pouco em comum com as igrejas acima referidas, para além do nome. E sinceramente tenho vergonha de ter esse nome em comum e prefiro dizer simplesmente que sou cristão, para tentar evitar que me colem a qualquer uma das correntes do cristianismo. Infelizmente há uma proliferação assustadora de igrejas que se auto-denominam evangélicas, causando uma confusão de todo o tamanho. A minha igreja, não sendo perfeita, é onde eu me sinto melhor porque conheço as pessoas que a frequentam e sei que, mesmo com divergências pontuais em relação a questões de doutrina, essas pessoas entendem e vivem o cristianismo da mesma forma que eu. Compreendo que seja confuso para quem está de fora perceber o porquê de tantas igrejas e de tantas divisões entre os cristãos. As razões são muitas, algumas mais válidas do que outras. Mas é provável que em qualquer igreja dita cristã existam pessoas que percebem o cristianismo e que o vivem realmente nas suas vidas e pessoas que não o fazem. A proporção entre estes dois tipos de pessoas varia de igreja para igreja. Avaliar até que ponto uma igreja é mais cristã do que outra é uma tarefa não linear da qual devemos nos abster.)

Voltando ao tema do post, uma coisa é certa: nada daquilo que fizermos vai levar Deus a amar-nos mais. Ele já nos ama com um amor pleno, absoluto, total. Não há qualquer tipo de sacrifício, de reza, de peregrinação, de esforço, de molestação física, psicológica ou emocional, que leve Deus a gostar mais de nós. No mundo consumista em que vivemos, é difícil distanciarmo-nos de uma visão do cristianismo que não exija qualquer troca, qualquer espécie de negócio. Mas é assim mesmo que funciona a graça de Deus. Ele permitiu que Jesus se sacrificasse em nosso lugar e agora não há nada que tenhamos que fazer para ter acesso a Ele. É gratuito, basta aceitá-lo.

E agora vocês perguntam: mas se é assim, isso quer dizer que não é preciso ir à igreja, nem falar com Deus, nem cumprir qualquer tipo de regras? Aceitamos que Jesus morreu por nós criando, através da sua morte e ressurreição, um caminho para Deus e isso é tudo? O cristianismo acaba aí?

Quem acompanha este blog já deve saber a resposta. O cristianismo não acaba aí. Reconhecer que é Jesus que nos reconcilia com Deus é apenas o primeiro passo. A partir daí, já que temos acesso a Deus, ser cristão é estabelecer com Ele uma relação pessoal. E, à medida que vamos percebendo o tamanho do amor que Deus tem por nós, vamos sentindo desejo de aprofundar essa relação. Como em qualquer relação, as duas partes têm que comunicar uma com a outra. Por isso sentimos desejo de falar com Deus, de lhe contarmos os nossos problemas e anseios e de partilharmos com Ele as nossas alegrias. Rezar, ou melhor, falar com Deus, não deve ser uma obrigação auto-imposta sob o medo de não lhe estarmos a agradar o suficiente. Falar com Deus torna-se uma necessidade e um prazer. Tal como falar com os nossos amigos mais próximos e com quem gostamos de estar. E Ele fala conosco através da Bíblia e através daqueles a quem designou para pregar a sua mensagem nas igrejas. E é também natural sentirmos desejo de partilhar a descoberta de Deus com outros que estão a fazer a mesma descoberta. Isso faz-se nas igrejas. Por isso, o desejo de ir à igreja vai crescendo, sem que seja também uma obrigação. A ideia do cristão não deve ser baseada no medo de Deus: "tenho que orar e ir à igreja e cumprir todas as regras, caso contrário Deus vai zangar-se comigo e castiga-me." A ideia é a de fazer essas coisas porque temos gosto em fazê-las, porque elas nos completam.

E é natural que a relação com Deus vá moldando as nossas personalidades, as nossas opiniões e o nosso carácter. Isso reflecte-se em mudanças que, para quem está de fora, podem parecer um sinal de perda de liberdade. No entanto a motivação do cristão não deve ser apenas a de cumprir regras com o intuito de agradar a Deus, como se lhe estivesse a fazer um favor. Ao nos relacionarmos com Deus as noções do bem e do mal, do certo e do errado, vão ganhando contornos mais definidos na nossa consciência e a motivação das mudanças que ocorrem no cristão deve ser uma convicção profunda daquilo que é certo e errado, numa busca constante da integridade da qual Jesus foi o exemplo máximo.

Espero com este texto ter conseguido delinear uma resposta plausível àqueles que julgam encontrar sinais de crueldade em Deus e no cristianismo. A relação do homem com Deus não implica a perda de liberdade. Pelo contrário... reconhecer que precisamos dele e da acção do seu amor nas nossas vidas, levar-nos-à a uma caminhada durante a qual nos vamos libertando dos defeitos e dos erros que nos aprisionam. Deus não nos transforma em escravos seus, mas em amigos! E se é verdade que o cristianismo pode levar os crentes a abdicar de coisas e a imporem, aparentemente, alguma restrição à sua própria liberdade, isso deverá ser feito de coração, com a convicção de que se está a tomar a atitude certa e nunca por medo e obrigação. Caso contrário, estaremos a tornar-nos fanáticos e a viver um cristianismo oco e sem sentido. E em nome desse tipo de cristianismo o homem já mostrou que é capaz de cometer os actos mais loucos que possamos imaginar, actos nos quais não há qualquer vestígio da mensagem de Jesus.

“Se pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36)