31.1.10

Leituras

Ando com vontade de escrever qualquer coisa, mais que não seja porque é preciso actualizar frequentemente o blogue para fidelizar clientes. O problema é que tenho vários textos começados mas não tenho conseguido terminá-los... está a faltar-me aquele clique que permite dar o remate final nos textos, pôr a cereja no topo do bolo!

Na falta de textos prontos, deixo-vos com o momento publicitário. É isto que ando a ler: Jesus for President, de Shane Claiborne e Chris Haw. Uma viagem pela história tentando perceber qual o plano que Deus tinha em mente para a vida do homem em sociedade e em comunidade. Uma viagem cuja premissa é esta: o Reino de Deus, referido na oração do Pai-Nosso, não é apenas o Reino do Céu, é também o Reino que os seus filhos criam na Terra. Um reino governado por Deus e pelas suas leis de graça e amor, às margens dos reinos políticos que os homens inventaram para se auto-governar. É este Reino que o Shane e o Chris tentam viver e sugerem neste livro. Ainda estou numa fase inicial, a delirar com a descrição que eles fazem dos acontecimentos do Velho Testamento. A forma como eles explicam o Velho Testamento é refrescante, profunda e criativa!... E não se aprende na escola dominical nem na catequese!
Na prateleira, em modo de espera, está este livrito! Red Letter Christians é uma designação não oficial de um movimento não oficial que tem crescido nos Estados Unidos. Um movimento de cristãos emergentes que procuram tomar posições em questões fracturantes da sociedade fazendo uma interpretação da Bíblia à luz das palavras de Jesus. Algumas versões da Bíblia têm as palavras ditas por Jesus destacadas a vermelho. Daí o nome do livro e do movimento. É provável que nos próximos tempos partilhe com vocês citações destes livros e pensamentos que eles me suscitam.

24.1.10

A bikeride for life

Tenho uma amiga que é uma freak revolucionária desregulada e que insiste em provar que é mesmo uma freak revolucionária desregulada! Agora meteu na cabeça que vai participar numa corrida de bicicleta de Londres a Paris com o objectivo de angariar dinheiro para a Christian Aid, uma organização que combate a pobreza. Acompanhem aqui a saga dela! Podem saber como estão a correr os preparativos, tanto a nível de treino como de angariação de fundos. Podem também contribuir, se tiverem esse desejo e possibilidade.

Ana, tenho três coisinhas a dizer-te: 1) prepara-te para as dores musculares! 2) hei-de arranjar maneira de te ir visitar entretanto e vou verificar in loco se esse treino está ou não a correr bem! 3) és a minha heroína! =)

16.1.10

Acerca do sentido de urgência e do extremismo

Época de exames.
Acordar cedo, tomar um duche rápido, emborcar uma chávena de café e correr para o comboio. Todos os segundos contam e a viagem de comboio é uma excelente ocasião para rever os apontamentos ou para repensar um exercício que ficou mal resolvido na véspera.
Na biblioteca da faculdade já trabalha o grupo de colegas do costume. Dividimo-nos por duas ou três mesas, espalhamos os calhamaços, as sebentas, e as fotocópias dos exercícios e exames resolvidos, fornecidos por veteranos, já com manchas de bolor e sujidade.
O estudo começa de imediato e estende-se pelo dia fora. Nos momentos de pausa para almoçar, lanchar ou beber mais um café, a conversa viaja um pouco mas retorna sempre ao ponto de partida: o estudo, as dificuldades impostas pela matéria, os temidos exames...
Ao fim da tarde, o regresso a casa. Se o sono permitir, os minutos da viagem são outra vez investidos no estudo. Mas se o peso das pálpebras for insuportável, deixo-me cochilar um pouco, recuperando alguma frescura mental que fará falta mais tarde.
O jantar é engolido num ápice. Aguardam-me mais exercícios, mais uma ou duas horas de estudo. Ao fim do dia, para equilibrar a sanidade e relaxar a mente, permito-me algum tempo de distracção. Entrego-me a tarefas pouco exigentes até o sono atacar de um modo irresistível.
Amanhã há outro dia igual. A não ser que seja fim-de-semana. No fim-de-semana o estudo também é a prioridade, mas arranja-se sempre tempo para actividades que quebram a rotina. As manhãs de sábado são reservadas para as futeboladas com os amigos do costume. Para além do desporto, há sempre oportunidade para conversar, contar piadas e mandar bocas saudáveis uns aos outros. Aos domingos não dispenso a ida à igreja. Mas invariavelmente, mesmo que me envolva noutras actividades, no meu pensamento pairam os exames. É um sentimento de urgência constante que me leva a considerar o estudo inadiável e prioritário.
Urgência, a palavra que melhor caracteriza a época de exames.



Agora dou por mim a recordar a forma como vivia a época de exames e a questionar-me se devo ou não encarar cada dia da vida como um dia de época de exames. Se devo ou não alimentar o sentido de urgência. Ou, mais até do que alimentá-lo, se devo ou não entregar-me a ele, tornar-me refém dele. Perguntam vocês o que será assim tão urgente que justifique viver sob esse "stress"? É urgente ser mais parecido com a pessoa que eu sei que devo ser, é urgente levantar a voz para protestar contra a injustiça, é urgente abraçar aqueles que precisam de consolo, é urgente transmitir aos outros, seja através de actos seja através de palavras, a graça do Pai, é urgente...

Continuo a procurar uma resposta clara, mas inclino-me mais para a resposta afirmativa. O cristianismo não devia ser vivido a meio gás. Abraçamos apenas metade da mensagem cristã - aquela que nos convém - e continuamos a viver confortavelmente a nossa vida, enquanto à nossa voltas as pessoas se afundam no caos e no desespero. Sei que não devo viver assim. Devo lutar contra a procrastinação - esse defeito dos portugueses que todos somos céleres a apontar e a criticar, mas desconfio que no fundo até nos orgulhamos dele e o acarinhamos como sendo um elemento da nossa cultura, da nossa identidade. Devo lutar contra o comodismo - é mais fácil ficar sentado no sofá do comodismo a assistir ao desenrolar da vida, sem sujar as mãos, sem arregaçar as mangas. Mas a facilidade não devia ser nem por sombras o meu objectivo, a minha motivação. O caminho que Jesus Cristo nos veio propor não é um caminho fácil. É um caminho de luta e de negação. "Se algum de vocês quer ser meu seguidor, deve esquecer-se de si mesmo, tomar a sua cruz e seguir-me."Marcos 8:34

Sim, é urgente ser cristão. É urgente sermos cristãos extremistas. Não um extremismo que nos conduza ao fanatismo e à intolerância, mas um extremismo que nos leve a ser mais parecidos com Cristo. Foi esse extremismo que levou Paulo a dizer: "Eu estou crucificado com Cristo; e apesar de continuar a viver, já não é o meu eu que domina, mas é Cristo quem vive em mim." Gálatas 2:20

Termino com um excerto de uma carta escrita por Martin Luther King quando esteve preso, a famosa Letter from Birmingham Jail:

«Was not Jesus an extremist for love? "Love your enemies, bless them that curse you, pray for them that despitefully use you." Was not Amos an extremist for justice? "Let justice roll down like waters and righteousness like a mighty stream." Was not Paul an extremist for the gospel of Jesus Christ? "I bear in my body the marks of the Lord Jesus." Was not Martin Luther an extremist? "Here I stand; I can do none other so help me God." Was not John Bunyan an extremist? "I will stay in jail to the end of my days before I make a butchery of my conscience." Was not Abraham Lincoln an extremist? "This nation cannot survive half slave and half free." Was not Thomas Jefferson an extremist? "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal." So the question is not whether we will be extremist but what kind of extremist will we be. Will we be extremists for hate or will we be extremists for love? Will we be extremists for the preservation of injustice or will we be extremists for the cause of justice? In that dramatic scene on Calvary's hill, three men were crucified. We must not forget that all three were crucified for the same crime - the crime of extremism. Two were extremists for immorality, and thusly fell below their environment. The other, Jesus Christ, was an extremist for love, truth and goodness, and thereby rose above his environment.»


E, depois de meditar e escrever estas linhas, esta é a minha oração:

Pai,
peço-te que me dês força para carregar a minha cruz. Que o sopro do comodismo não apague a chama que arde em mim e que me impele a viver para Ti. Que os passos que dou enquanto Te sigo não sejam hesitantes, medrosos, próprios de uma pessoa contrariada, mas que sejam urgentes, apaixonados, abnegados. Sabendo que cada passo que tenho que dar e cada batalha que travo comigo próprio, é mais urgente do que qualquer exame universitário.
Ensina-me a abraçar e a amar a justiça com todo o meu coração. Ensina-me a caminhar no caminho do extremismo, o extremismo do amor e da graça. Até porque senão fosse pela Tua graça extrema, eu estaria condenado...
Amén

10.1.10

Sto Agostinho - Confissões de um Pecador

«Os homens dão voz às suas opiniões, mas não passam de opiniões, como tantas rajadas de vento que atiram a alma de um lado para o outro. A luz fica oculta pelas nuvens e a verdade não pode ser vista, embora esteja lá perante os nossos olhos.»

Sto Agostinho, em Confissões de um Pecador

Um livro em que o autor narra a sua luta com a fé, com a espiritualidade cristã, com o pecado e com a sua alma. São confissões de um homem que viveu no século III, mas o conteúdo é intemporal, porque intemporal é também esta luta que o homem vive no seu íntimo. As confissões de Sto. Agostinho têm subjacentes uma ideia da qual gosto particularmente: a ideia de que, de um modo inato, a nossa alma clama por redenção, pela redenção obtida através de Jesus Cristo. Se a inspiração me der para aí, talvez aprofunde esta ideia num texto futuro.

7.1.10

Não te leves muito a sério

Pensei muito hoje. Penso muito todos os dias. A matemática obriga-me a fazer do raciocínio a minha principal ferramenta de trabalho. Paralelamente, no meu tempo livre, tenho-me dedicado a ler coisas muito difíceis de assimilar. Torno-me introspectivo e mergulho frequentemente em prolongados períodos de reflexão profunda e, às vezes, esgotante. Não sei se foi a matemática que me moldou e me levou a gostar de filosofia (se é que se pode chamar filosofia ao conteúdo daquilo que leio e aos devaneios que resultam dessas leituras) ou se este gosto cresceu apenas motivado pela necessidade que tenho de obter respostas para as cenas. Gosto de pensar. Gosto quando do nada, como um raio, surge uma ideia que clarifica uma dúvida ou que responde a uma ansiedade da alma ou que é, simplesmente, uma ideia divertida. Mas é igualmente delicioso quando a ideia é construída, em vez de ser repentina. Às vezes é necessário cozinhar uma ideia em lume brando durante dias ou semanas, até que ela sejam comestível! Talvez o meu background não tenha servido de incentivo para pensar pela minha própria cabeça e tenha atrasado um pouco a minha faceta de "pensador". Mas nunca é tarde para começar e, actualmente, pensar é uma actividade que eu saboreio com carinho.

Mas como já referi, pensar pode ser esgotante. Já dizia Salomão que "não há limite para fazer livros e o muito estudar é enfado da carne." Agora que o dia se aproxima do fim e a minha lucidez ameaça apagar-se, da mesma forma que a chama de uma vela treme enquanto a cera derrete, fico feliz por poder deixar o meu pensamento adormecer. Deixo-me embalar pelos sentidos e pelas emoções, sem as submeter ao escrutínio da razão. E são estes momentos que equilibram a minha sanidade e a minha qualidade de vida. Os momentos em que rio sem motivo e canto e danço sozinho no quarto ao som da minha banda sonora do momento. Hoje deixo-me inebriar pelo Michael Bublé, a Jacinta e o Phil Driscoll, a cantar temas como Come Fly With Me, Don't Worry Be Happy e Dance and Sing. Quando a música cala, já escuto o sussurro da almofada a chamar por mim, qual sereia a tentar enfeitiçar um homem do mar. Creio que, dentro de instantes, será com prazer que me entregarei de corpo e alma a esse feitiço. Mas, antes de partir, gostava de dar a estas linhas uma conclusão com nexo e que vos levasse a abrir a boca de espanto (ou de sono!) exclamando para vós mesmos "Que brilhante raciocínio, David!".

Qual é a conclusão? Bom, avancemos então para ela - aquela que me é possível expor, já com a minha capacidade de raciocínio e concentração totalmente eclipsada pela escuridão da noite. A introspecção em demasia é perigosa e infrutífera. Alberto Caeiro dizia que "Pensar é estar doente dos olhos" e eu às vezes sou tentado a dar-lhe razão, pelo menos parcialmente. Ainda que pensar traga benefícios e seja até um hábito inerente ao cristianismo (ao contrário do que muita gente pensa - vide Romanos 12:2), pensar em demasia não é saudável e impede que apreciemos muitas coisas bonitas da vida que não se alcançam mediante esforço intelectual, mas sim através dos sentidos! Pensar muito trava a espontaneidade. Não quero cair no erro de levar a vida demasiado a sério. Não quero cair no erro de me levar demasiado a sério.