31.12.09

Pensamento Desconexo de Fim de Ano

Subo a custo a colina do tempo
Alheado do meu pensamento
Que vadia à distância

Tudo em mim é incerto
Sou feito de incoerência
Absurdamente orgulhoso de ser vazio

Abano, e de que maneira!, ao vento
Mas felizmente há uma Rocha!

25.12.09

Feliz Natal

O Above All deseja a todos os leitores um Natal alegre, com abundantes motivos para sorrir. Mas nesta época de consumismo tão exacerbado e em que as pessoas andam carregadas de um altruísmo sazonal, talvez para aplacarem as consciências impiedosas, não podemos deixar de reflectir uns segundos acerca da loucura do mundo, das discrepâncias entre ricos e pobres, da falta de amor e consideração uns pelos outros... O mundo é um comboio descarrilado que avança descontrolado para o caos e a loucura. E nós vamos assistindo a esta viagem, sentados confortavelmente dentro do comboio... Não há solução? Talvez haja e talvez a encontremos se pensarmos qual é o real significado do Natal. O Natal e a Páscoa são épocas festivas em que nos lembramos dos amigos e passamos mais tempo com a família e ao longo dos séculos fomos enfeitando estas épocas com tradições e hábitos irrelevantes, não nos apercebendo que, ao mesmo tempo, estavamos a sufocar o seu significado.

Não sei se já escrevi por aqui que vejo Jesus como o maior revolucionário de todos os tempos. Ele, que é Deus, fez-se muito menor do que aquilo é, tornando-se uma criança nascida em condições humildes e crescendo para ser um homem revolucionário, distribuindo graça e amor em catadupa num processo que teve o seu apogeu numa morte horrível, sob intenso desprezo e humilhação, e na posterior ressurreição! O Natal foi o primeiro passo nesse processo e hoje os cristãos continuam a celebrá-lo para que as pessoas se esqueçam que ainda há esperança. Há esperança para o mundo se as pessoas deixarem Jesus nascer nos seus corações e deixarem que Ele desenvolva nelas um processo semelhante de revolução. A revolução da graça e do amor, dos quais Ele é a fonte perfeita! Uma revolução que, por ser contagiante, contribuirá para amenizar o caos, pôr um pouco o comboio nos carris e até, quem sabe, mudarmos o destino desta viagem louca... Talvez seja uma utopia, mas como dizia o John Lennon, "You may say that I'm a dreamer, but I'm not the only one, I hope someday you will join us, and the world will be as one." O erro do John Lennon e de muitas outras pessoas é tirarem Deus e a excelência do Seu amor da equação.

Deixo-vos com duas músicas de Natal que exprimem, separadamente, dois sentimentos que queria partilhar com vocês.







24.12.09

Aprendizagem

Como uma adenda ao texto anterior aqui fica mais uma citação do livro Blue Like Jazz:

"Andrew is the one who thaught me that what I believe is not what I say I believe; what I believe is what I do. (...) Andrew would say that dying for something is easy because it is associated with glory. Living for something, Andrew would say, is the hard thing. Living for something extends beyond fashion, glory, or recognition. We live for what we believe, Andrew would say.

If Andrew is right, if I live what I believe, then I don't believe very many noble things. My life testifies that the first thing I believe is that I am the most important person in the world. My life testifies to this because I care more about my food and shelter and happiness than about anybody else.

I am learning to believe better things. I am learning to believe that other people exist, that fashion is not truth; rather, Jesus is the most important figure in history, and the gospel is the most powrful force in the universe. I am learning not to be passionate about empty things, but to cultivate passion for justice, grace, truth, and communicate the idea that Jesus likes people and even loves them."

Don Miller

Tentativa de tradução:

"O Andrew é quem me ensinou que aquilo em que eu acredito não é o que eu digo que acredito. O que acredito é o que faço. O Andrew diria que morrer por alguma coisa é fácil porque está associado à glória. Viver para alguma coisa, diria o Andrew, é que é difícil. Viver para algo estende-se para além da moda, da glória e do reconhecimento. Nós vivemos para aquilo em que acreditamos, segundo o Andrew.

Se o Andrew estiver certo, se eu vivo aquilo em que acredito, então eu não acredito em muitas coisas nobres. A minha vida testefica que a primeira coisa na qual eu acredito é que eu sou a pessoa mais importante do mundo. A minha vida testefica isto porque eu preocupe-me mais com a minha vida e o meu conforto e felicidade do que com qualquer outra pessoa.

Estou a aprender a acreditar em coisas melhores. Estou a aprender a acreditar que existem outras pessoas, que a moda não é a verdade; pelo contrário, Jesus é a figura mais importante da história e o evangelho é a força mais poderosa do universo. Estou a aprender a não ser apaixonado por coisas vazias, mas sim a cultivar paixão pela justiça, graça, verdade, e a comunicar a ideia de que Jesus gosta das pessoas e até as ama."

23.12.09

2009

Foi um ano cheio e rico, mas com o sabor agridoce que tem feito parte da minha vida desde que me conheço. A verdade é que o ano foi excelente, mas eu sou um gajo permanentemente insatisfeito com uma montanha de coisas. Não creio que isso seja necessariamente mau. É mau quando essa insatisfação não se traduz em inconformismo. Quando a pessoa dá lugar à insatisfação permanente na sua mente e no seu coração só tem dois caminho a seguir: ou não faz nada para a contrariar, o que acaba por levar à amargura e ao cinismo, ou arregaça as mangas e tenta perceber a causa da sua insatisfação, até que ponto é que ela é justa ou não e até que ponto ela pode ser vencida através da mudança das atitudes e dos hábitos. Eu já percorri ambos os caminhos na minha curta experiência de vida e, numa análise mais profunda, talvez seja levado a concluir que em certas áreas ainda percorro o caminho do cinismo. Mas os acontecimentos do ano de 2009 contribuíram para que tenha sido este o ano em que eu percorri mais quilometros no caminho do inconformismo, o ano em que eu mais arregacei as mangas. Se tivesse que escolher uma palavra para descrever este ano, escolheria a palavra brainstorm. Este ano as minhas ideias acerca de diversos temas foram reviradas, a minha fé foi reformulada e a graça de Deus tornou-se mais real para mim, num processo que começou de um modo mais discreto em 2008, mas que só em 2009 produziu a tal tempestade mental. Foi como uma explosão de ideias, algumas delas ideias novas, outras mais antigas, mas subitamente aclaradas, como que iluminadas por uma nova luz. Partilhei muitas dessas ideias ao longo do ano aqui no blogue e também na igreja e com alguns amigos. O rastilho que levou a essa explosão foi sem dúvida a leitura de meia-dúzia de livros soberbos! Vi-me confrontado pelas ideias de Brennan Manning, Shane Claiborne, Philip Yancey e Donald Miller, ideias ao mesmo tempo refrescantes e perturbadoras às quais não posso ficar indiferente. São sobretudo essas ideias que me têm levado a trilhar mais alguns quilometros no caminho do inconformismo. Mas a meta ainda está longe e eu não quero ficar por aqui... Não quero que esta revolução termine, até porque uma das coisas que eu aprendi este ano é que o cristianismo tem muito mais a ver com um caminho de revolução constante do que com um caminho tranquilo que o cristão percorre com uma alegria serena e imperturbável. «E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.» (Romanos 12:2)

Antes de começar a escrever este balanço de 2009, dei por mim a questionar-me qual seria a música que eu escolheria como a banda-sonora ideal para este ano. O mais provável é que a escolha recaísse sobre uma das músicas do TeenStreet. Mas nestes últimos dias do ano, nos quais o rasto agridoce que ele deixa parece acentuar-se, a música que parece fazer mais sentido partilhar com vocês não é tanto uma música que reflecte o meu 2009, mas sim uma música que projecta o meu 2010. Uma música que exprime o desejo de que em 2010 a tempestade, a explosão, the hurricane, the burning flame, continuem a "perturbar" a minha vida! Como diz o Shane Claiborne: "I know there are people out there who say, "My life was such a mess. I was drinking, partying, sleeping around... and then I met Jesus and my whole life came together," God bless those people. But me, I had it together. I used to be cool. And then I met Jesus and he wrecked my life. The more I read the gospel, the more it messed me up, turning everything I believed in, valued, and hoped for upside-down. I am still recovering from my conversion." Julgo que seria saudável se nós estivessemos receptivos a este tipo de transformação que o Shane experimentou, não só no momento da nossa conversão, mas ao longo de toda a caminhada cristã. Seria frutífero se aprendessemos a abrir mão do nosso conforto, da nossa segurança, das nossas ideias, dos nossos preconceitos, para contruírmos vidas e igrejas mais preparadas para dar resposta àquelas que são as reais necessidades de um mundo com sede de graça e de amor. "I don't wanna be safe..."



21.12.09

Uma oração

Tu olhas p'ra mim
e vês tudo em mim
Tu conheces o meu coração
É impossível esconder

Conserta o meu caminhar
Só a Ti eu quero agradar

Minha alma chora quando peca contra Ti
Limpa tudo o que há em mim
Muda tudo o que vês em mim
Ensina-me a ser como Tu és
Treina-me a andar na Tua vontade

Limpa tudo o que há em mim
Muda tudo o que vês em mim
Motiva-me a ser perfeito para Ti
Motiva-me a ser perfeito para Ti

Letra da música Motiva-me de Héber Marques

16.12.09

Self-imprisoned

All this is flashy rhetoric about loving you.
I never had a selfless thought since I was born.
I am mercenary and self-seeking through and through;
I want God, you, all friends, merely to serve my turn.

Peace, reassurance, pleasure, are the goals I seek,
I cannot crawl one inch outside my proper skin;
I talk of love - a scholar's parrot may talk Gree -
But, self-imprisoned, always end where I begin.

C.S.Lewis
(via Blue Like Jazz, Don Miller)

5.12.09

Blue Like Jazz

"I was watching BET one night, and they were interviewing a man about jazz music. He said jazz music was invented by the first generation out of slavery. I thought that was beautiful because, while it is music, it is very hard to put on paper; it is so much more a language of the soul. It is as if the soul is saying something about freedom. I think Christian spirituality is like jazz music. I think loving Jesus is something you feel. I think it is something very difficult to get on paper. But it is no less real, no less meaningful, no less beautiful.

The first generation out of slavery invented jazz music. It is a music birthed out of freedom. And that is the closest thing I know to Christian spirituality. A music birthed out of freedom. Everybody sings their song the way they feel it, everybody closes their eyes and lifts up their hands."

Tentativa de tradução:

"Estava a ver a BET uma noite, e eles estavam a entrevistar um homem acerca de música jazz. Ele disse que o jazz foi inventado pela primeira geração livre da escravatura. Eu achei isso lindo porque, apesar de ser música, o jazz é muito difícil de pôr no papel; é muito mais uma linguagem da alma. É como se a alma estivesse a dizer algo acerca da liberdade. Eu penso que a espiritualidade Cristã é como a música jazz. Penso que amar Jesus é algo que tu sentes. Penso que é algo muito difícil de pôr no papel. Mas não é por isso que se torna menos real, com menos significado, com menos beleza.

A primeira geração livre da escravatura inventou o jazz. É uma música gerada pela liberdade. E isso é a coisa mais próxima que eu conheço da espiritualidade Cristã. Uma música gerada pela liberdade. Toda a gente canta as suas canções do jeito que as sentem, toda a gente fecha os seus olhos e levanta as suas mãos."

Excerto do livro Blue Like Jazz, de Donald Miller, um livro que é, digamos, hmm, BRUTAL!!!