23.12.09

2009

Foi um ano cheio e rico, mas com o sabor agridoce que tem feito parte da minha vida desde que me conheço. A verdade é que o ano foi excelente, mas eu sou um gajo permanentemente insatisfeito com uma montanha de coisas. Não creio que isso seja necessariamente mau. É mau quando essa insatisfação não se traduz em inconformismo. Quando a pessoa dá lugar à insatisfação permanente na sua mente e no seu coração só tem dois caminho a seguir: ou não faz nada para a contrariar, o que acaba por levar à amargura e ao cinismo, ou arregaça as mangas e tenta perceber a causa da sua insatisfação, até que ponto é que ela é justa ou não e até que ponto ela pode ser vencida através da mudança das atitudes e dos hábitos. Eu já percorri ambos os caminhos na minha curta experiência de vida e, numa análise mais profunda, talvez seja levado a concluir que em certas áreas ainda percorro o caminho do cinismo. Mas os acontecimentos do ano de 2009 contribuíram para que tenha sido este o ano em que eu percorri mais quilometros no caminho do inconformismo, o ano em que eu mais arregacei as mangas. Se tivesse que escolher uma palavra para descrever este ano, escolheria a palavra brainstorm. Este ano as minhas ideias acerca de diversos temas foram reviradas, a minha fé foi reformulada e a graça de Deus tornou-se mais real para mim, num processo que começou de um modo mais discreto em 2008, mas que só em 2009 produziu a tal tempestade mental. Foi como uma explosão de ideias, algumas delas ideias novas, outras mais antigas, mas subitamente aclaradas, como que iluminadas por uma nova luz. Partilhei muitas dessas ideias ao longo do ano aqui no blogue e também na igreja e com alguns amigos. O rastilho que levou a essa explosão foi sem dúvida a leitura de meia-dúzia de livros soberbos! Vi-me confrontado pelas ideias de Brennan Manning, Shane Claiborne, Philip Yancey e Donald Miller, ideias ao mesmo tempo refrescantes e perturbadoras às quais não posso ficar indiferente. São sobretudo essas ideias que me têm levado a trilhar mais alguns quilometros no caminho do inconformismo. Mas a meta ainda está longe e eu não quero ficar por aqui... Não quero que esta revolução termine, até porque uma das coisas que eu aprendi este ano é que o cristianismo tem muito mais a ver com um caminho de revolução constante do que com um caminho tranquilo que o cristão percorre com uma alegria serena e imperturbável. «E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.» (Romanos 12:2)

Antes de começar a escrever este balanço de 2009, dei por mim a questionar-me qual seria a música que eu escolheria como a banda-sonora ideal para este ano. O mais provável é que a escolha recaísse sobre uma das músicas do TeenStreet. Mas nestes últimos dias do ano, nos quais o rasto agridoce que ele deixa parece acentuar-se, a música que parece fazer mais sentido partilhar com vocês não é tanto uma música que reflecte o meu 2009, mas sim uma música que projecta o meu 2010. Uma música que exprime o desejo de que em 2010 a tempestade, a explosão, the hurricane, the burning flame, continuem a "perturbar" a minha vida! Como diz o Shane Claiborne: "I know there are people out there who say, "My life was such a mess. I was drinking, partying, sleeping around... and then I met Jesus and my whole life came together," God bless those people. But me, I had it together. I used to be cool. And then I met Jesus and he wrecked my life. The more I read the gospel, the more it messed me up, turning everything I believed in, valued, and hoped for upside-down. I am still recovering from my conversion." Julgo que seria saudável se nós estivessemos receptivos a este tipo de transformação que o Shane experimentou, não só no momento da nossa conversão, mas ao longo de toda a caminhada cristã. Seria frutífero se aprendessemos a abrir mão do nosso conforto, da nossa segurança, das nossas ideias, dos nossos preconceitos, para contruírmos vidas e igrejas mais preparadas para dar resposta àquelas que são as reais necessidades de um mundo com sede de graça e de amor. "I don't wanna be safe..."



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