29.3.10

O foco dos cristãos

É muito bom quando alguém verbaliza por nós os pensamentos que nos assaltam a mente, mas que não conseguimos pôr por palavras. Foi isso que senti ao ler o texto que este poste recomenda. Senti que o autor deu vida não somente aos seus pensamentos, mas também aos meus e, provavelmente, aos pensamentos de outros cristãos que por vezes se sintam incomodados pelo orgulho daqueles que advogam uma doutrina cristã específica em detrimento de outras. A doutrina é importante, mas não é o principal. Quando nos ocupamos mais a defender uma doutrina do que a cultivar um cristianismo relacional, autêntico e movido pela graça, corremos o risco sério de transformar o cristianismo apenas numa religião. Somos salvos pela graça e não pela doutrina. Termino usando a mesma frase com a qual Brissos Lino começa o seu texto e reforçando a minha sugestão para lerem todo o texto:

“Cristo não foi essencialmente professor, legislador, mas ser humano, ser humano real como nós. Por isso, ele não quer que em nosso tempo sejamos alunos, representantes ou defensores de determinada doutrina, mas seres humanos, seres humanos reais perante Deus.”
(Dietrich Bonhoeffer)


24.3.10

Should christians use their brains?


«Caleb left the office [Jeff's office, his pastor]. After he walked out through the church's front doors, he stopped under the archway and rubbed his temples. He was surprised to find himself shaking. Am I crazy? Jeff was his mentor and friend, and he had relied on his support and encouragement over the past couple of years. It had sustained him. But... he doesn't understand me anymore. It wasn't safe for him to bring up questions. Emptiness echoed in him like a late-night leaky faucet. His chest tightened. His eyes stung. He bowed his head and shuffled slowly through the drizzle to his parked car.»

A foto foi encontrada no grupo do facebook que referi num texto anterior: "I'm a christian and I'm proud." (Parece que há quem se esteja a divertir usando o grupo para fazer propaganda anti-cristã e esta foto serve muito bem esse propósito). O texto é um excerto de um livro que estou a ler, chamado True Story: A Christianity Worth Believing in. Em linhas gerais o livro é uma história inventada sobre um jovem cristão, chamado Caleb, que começa a questionar alguns aspectos da fé. Põe em causa o cerne do cristianismo que lhe ensinaram e mesmo o objectivo do evangelho. O bacano sente que na sua igreja é incompreendido e que não há abertura para colocar as questões que lhe assaltam a mente. Acaba por entrar em contacto com uma pessoa que o conduz num processo de redescoberta da fé. Uma fé com raízes mais sólidas, um evangelho que aponta para uma nova visão do mundo e para uma missão global que torna o cristianismo relevante no caos em que vivemos.

Encontro nesta história vestígios da minha própria biografia. Também tenho passado por um processo de redescoberta da fé. Cresci com dificuldade em me identificar com uma grande parte dos cristãos adultos que conhecia. Sempre me pareceu que em muito do que nós fazíamos na igreja não batia a bota com a perdigota. Sentia dificuldade em carregar a bagagem adicional à fé, composta por regras, costumes estranhos, tradições sem sentido e doutrinas confusas. Passei por muitos conflitos mentais e por uma fase de muita saturação. Felizmente ao longo do tempo conheci pessoas, tive conversas, vivi experiências e li livros que foram pavimentando o caminho da redescoberta da fé que eu mais tarde percorri. Hoje estou convicto que muita da bagagem adicional que me obrigavam a carregar é desnecessária e, até, prejudicial. Aos poucos, às vezes sorrateiramente, outras vezes com uma ponta de rebeldia que considero saudável, vou mandando essa bagagem às malvas!

É provável que muita gente da minha geração se identifique com a história do Caleb. Não fomos educados para a reflexão e sentimos que não há tempo e espaço para expor dúvidas e levantar questões. Diria até que muitos de nós fomos educados para ter medo das nossas próprias ideias... e por preguiça cedemos a esse medo! É mais fácil ir com a corrente! (E esta análise tanto é válida para cristãos como para não cristãos, basta substituir o contexto da igreja pelo da sociedade e da cultura!)

É mais fácil fazer o que sempre fizemos, pensar o que sempre pensámos, viver como sempre vivemos. É cómodo. Contudo a culpa não é só nossa. É uma questão de educação, de cultura e talvez também de conflito de gerações. Por ignorância, cobardia ou por razões ainda mais obscuras, não somos encorajados a pensar. Pelo contrário. Somos encorajados a tomar por empréstimo as ideias dos outros, a fé dos outros, os argumentos dos outros. Nos casos extremos, somos cobaias de uma lavagem cerebral efectuada por aqueles que têm poder sobre nós.

Infelizmente, às vezes a lavagem cerebral é feita através dos púlpitos. Criam-se rebanhos de ovelhas fanáticas que dizem "amééééé" a tudo. É o que eu chamo de "cristianismo" (obviamente entre aspas) castrador de identidades. E quando uma ovelha tem dúvidas é assaltada por um desconforto tão grande que mais vale reprimir todas as questões e lidar com os dilemas individualmente... até atingir o ponto de saturação. A foto lá de cima exemplifica o tipo de fundamentalismo promovido pelas igrejas mais extremistas. (Convém dizer que não conheço nenhuma igreja assim. Uma (pequena?) parte das igrejas evangélicas que conheço poderá ainda ter vestígios deste género de fundamentalismo, mas nada tão declarado como esta triste foto sugere.)

Reparem agora no contraste entre a foto lá de cima e a exortação que Paulo deu aos cristãos de Roma (exortação essa que, por estes dias, é um dos meus versículos preferidos): "Não se conformem com os padrões e costumes deste mundo, mas sejam como gente diferente, através da renovação da vossa maneira de pensar" Romanos 12:2

Pensar não tem nada de anti-cristão. Pelo contrário. O cristianismo deve estar na vanguarda do pensamento livre. Livre dos raciocínios viciosos que nos querem impingir, venham eles dos pulpitos, das tv's, dos professores, dos livros supostamente eruditos, etc. Livre das argumentações esfarrapadas que vigoram na sociedade, livre dos preconceitos que nos querem controlar... É esta a exortação de Paulo: não se conformem com a forma como as pessoas à vossa volta pensam a vida! Sejam diferentes! Pensem diferente! As igrejas devem promover tempo e espaço para as pessoas reflectirem, colocarem questões, porem em causa os pressupostos da vida e da fé. Construir passo a passo a fé (ou reconstruir) é um processo frutífero e que faz todo o sentido no mundo confuso em que vivemos. Acredito que, quando esse processo é motivado pelo desejo sincero de conhecer a verdade, é o próprio Deus que conduz as pessoas às respostas que elas precisam.

Para os meus amigos que não são cristãos, a minha mensagem é esta: ser cristão não é sinónimo de ser fanático e aceitar sem questionar tudo aquilo que nos querem enfiar no cérebro. No cristianismo há espaço para a dúvida e para as perguntas. Há espaço para pessoas que não sabem tudo e que discordam daquilo que outros cristãos dizem. Porque, ao contrário do que diz o cartaz da foto, ao contrário do estereótipo através do qual os cristãos são julgados, um cristão pode e deve ser "um free thinker".

22.3.10

O Amor



Este vídeo está soberbo! Não deixem de ver, são 10 minutos muito bem empregues, que ajudarão a enriquecer o vosso conceito de Amor. (via Sem açucar ou adoçante)

12.3.10

My birthday wishlist

Desejo que o comodismo,
entranhado na minha alma como veneno,
seja arrancado
mesmo que deixe ferida

Desejo que as ideias
que erradamente tomo por certezas absolutas
sejam revolvidas por Ti
da mesma forma que uma tempestade revolve o mar

Desejo que quebres
a sensação de segurança gerada pelo conforto
e que a fé e a graça
sejam as minhas verdadeiras âncoras

Desejo estas coisas porque

acredito que nós precisamos de ser confrontados com situações que nos choquem, que façam abanar os nossos alicerces, que deitem por terra os nossos preconceitos, que nos levem a questionar o mundo, a sociedade, nós próprios, para assim "sermos transformados pela renovação do nosso entendimento para experimentarmos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". (cf. Romanos 12:2)

Mas o aniversário não é só uma boa altura para formular desejos. É também um bom pretexto para agradecer. E eu tenho muitos motivos para estar grato... O ano que passou foi fantástico em muitos aspectos!!! Houve tanta coisa excelente que marcou este ano... torna-se difícil destacar pessoas, momentos ou acontecimentos particulares. Resta-me dizer do fundo do coração:

Obrigado a todos!
Obrigado Pai!

10.3.10

I'm sorry but I'm not proud


Agora surgiu no facebook um grupo chamado "I'm a christian and I'm proud". Alguns dos meus amigos aderiram ao grupo e entretanto recebi um convite para aderir também. Mas não o fiz. Porque não me orgulho de ser cristão. Antes que os meus leitores cristãos comecem a resmungar contra mim e que os meus leitores não-cristãos comecem a sorrir pensando que eu me "desconverti", deixem-me explicar melhor...

Ser cristão não é algo de que eu me possa orgulhar. Digo até mais: ser cristão não é uma escolha, porque na verdade não tenho alternativa. Um dia Jesus perguntou aos discípulos se queriam desistir de o seguir. Pedro devolveu a pergunta a Jesus "[mas se desistirmos de te seguir] Para quem iremos nós?" (João 6: 67-68). Esta pergunta retórica soa-me a qualquer coisa como "Mas qual é a alternativa?". Sou cristão porque necessito de redenção e reconciliação com Deus e porque a graça do Pai, expressa através da vida e do sacrifício de Jesus, é o caminho para essa reconciliação. Não há alternativa. E a graça não é algo de que me possa orgulhar. Não há qualquer laivo de mérito próprio envolvido no processo de reconciliação com Deus. É um favor 100% imerecido que o Pai dá a um filho maltrapilho.

Além disso, há um contra-senso grotesco quando nos orgulhamos de ser cristãos. Vejamos...

É natural (embora perigoso) orgulharmo-nos de coisas que fazemos bem. Se temos boas notas na escola é natural que a aprovação que recebemos dos nossos amigos, família e professores faça brotar em nós uma ponta de orgulho. Se temos talento nalguma área específica como a música e o desporto (e a matemática, porque não?!) a admiração que granjeamos com os nossos desempenhos também nos leva a inchar e a ficar feios como os sapos. Em resumo, a sociedade tolera e até promove o orgulho, quando este surge como consequência de um bom desempenho na tarefa que nos propomos realizar. Ora se nos orgulhamos de ser cristãos, a ideia subjacente é que somos bons nessa tarefa, que somos bons seguidores de Cristo. Mas caramba! vamos lá a chamar os bois pelos nomes: em geral nós (com algumas felizes excepções) somos péssimos seguidores de Cristo (e isto para mim é tão evidente que nem me vou dar ao trabalho de argumentar)! Portanto estamos a orgulhar-nos de uma coisa na qual somos péssimos... É ou não é um contra-senso?

Aos meus ouvidos e aos ouvidos de muitos não-cristãos, ouvir alguém a orgulhar-se de ser cristão soa a arrogância. Acredito que quem fundou o grupo no facebook não tivesse intenção de soar arrogante. Aliás, deve ter sido fundado com uma aparentemente boa intenção: encorajar os cristãos a desfraldarem a bandeira do cristianismo. No entanto eu não creio que o cristianismo deva ser exibido com orgulho, mas com humildade, sabendo que tudo aquilo que somos é pela graça. E se queremos desfraldar a bandeira do cristianismo podemos e devemos fazê-lo trocando as palavras por actos de amor. Em vez de usarmos os púlpitos das igrejas para fazermos discursos inflamados (ou o facebook para criar grupos de valor duvidoso), podemos usar os braços para amparar quem está só ou em sofrimento, os recursos para suprir necessidades dos necessitados, o amor e a graça que Deus derramou em nós para responder à injustiça e ao ódio.

Há pouco tempo aderi a um outro grupo no facebook chamado "sou evangélico(a) (ou simpatizante), mas não é por mal!". Se calhar estes dois grupos até servem propósitos semelhantes. Mas as palavras escolhidas são diferentes e sugerem uma motivação diferente, uma ideia-base diferente para o grupo. Talvez vejam esta minha opinião como uma picuinhice exagerada e desnecessária, com vestígios de fundamentalismo. Talvez seja uma opinião altamente criticável e é provável que possam contrapor-lhe sem esforço algumas críticas bem mandadas. Aceito que digam que eu estou a levar demasiado à letra algo que talvez se resuma a uma escolha infeliz de palavras. Porém eu acho que é preciso ter cuidado com estas coisas, para não distorcermos ainda mais aquilo que é afinal o cristianismo. E também porque talvez esta escolha de palavras não seja apenas infeliz, mas um reflexo de um problema mais grave que invadiu as igrejas como uma praga, a arrogância. Felizmente, a tendência da igreja emergente é abrir mão dessa arrogância e optar por uma terapia de graça e humildade! Talvez os passos que demos nesta terapia sejam ainda poucos e ainda indecisos, meio aos tropeções... Mas não queiram voltar atrás, por favor!!!

E lembrem-se: "Há mulher de César não basta ser séria"... E agora, se me dão licença, I rest my case.

4.3.10

Follow me

A partir da altura em que este blogue já tem uma seguidora, faz sentido pôr a barra de seguidores ali do lado direito... a não ser que os seguidores do blogue tenham vergonha de o admitir em público... o que é compreensível! Se quisermos ser justos, há que admitir que seguir este blogue é um claro sinal de demência (a auto-depreciação fica sempre bem!)... Agora a sério: a bem do meu ego e da minha auto-estima, adicionem-se ali à barra de seguidores. Acho que basta terem uma conta gmail. Assim fico também a conhecer melhor a audiência!

3.3.10

Futuro da Igreja

«O futuro da Igreja é não haver denominações... nem que seja quando estivermos todos com o Pai, no paraíso... talvez possamos dar já passos nesse sentido, esquecendo o que nos separa e abraçando as causas que nos são comuns, a graça, a justiça e o amor, mantendo o foco, o nosso e o daqueles que ouvem a nossa mensagem, no essencial: Jesus!»

David