20.5.10

Fé e ateísmo


Estou a ler um livro chamado "Não tenho fé suficiente para ser ateu". É um livro de Apologética Cristã no qual os autores procuram defender a racionalidade e plausibilidade da existência de Deus e da fé cristã usando evidências científicas e históricas e argumentos filosóficos. Devo adiantar que não acredito na possibilidade de se provar a existência de Deus recorrendo à lógica e à ciência e muito menos na possibilidade de verificar a veracidade do cristianismo. A existência de mistérios que o ser humano nunca será capaz de resolver faz parte da minha visão romântica da vida e não estou disposto a abdicar dela. Podemos divagar sobre os mistérios da ciência, da filosofia e da teologia, podemos recolher evidências que nos ajudem a entender esses mistérios e a conviver com eles, mas não creio que devamos esperar respostas para todas as questões. Se tal fosse possível, a fé seria desnecessária e, perdendo a fé, perderíamos um elemento essencial da vida cristã. Acredito num Deus infinito, absoluto e eterno e o ser humano tem uma mente finita, relativa (isto é, sujeita a influências externas) e limitada pelo tempo. O salto que nos leva a acreditar num ser supremo infinitamente maior que nós envolve necessariamente fé.

Não estou portanto a ler o livro à espera de encontrar uma demonstração inequívoca da existência de Deus. Estou a ler o livro porque é uma obra de Apologética actual, bem fundamentada e perspicaz e o bichinho da apologética já me andava a morder há uns tempos. Há uns anos atrás seria impensável eu dizer isto, mas a verdade é que gosto de filosofia. E uma parte da apologética é, sobretudo, filosofia cristã. Gosto de perceber as objecções que os ateus levantam aos teístas e como é que estes últimos as podem ultrapassar. E a verdade é que há evidências que apontam fortemente para a existência de um ser inteligente que planeou o universo.

Um dos objectivos dos autores é convencer que é necessária mais fé para não acreditar em Deus do que para acreditar em Deus. E eu estou a ficar convencido. Posso entender até certo ponto a posição agnóstica. Mas começo a ter muita dificuldade em entender o ateísmo exacerbado de algumas pessoas.

Além disso o livro contém argumentos que se tornam deliciosamente divertidos para uma mente tão dedutiva como a minha. Por exemplo: suponhamos que o universo sempre existiu, isto é, tem um passado infinito; então hoje não estaríamos aqui. Porquê? Porque o universo ainda não tinha chegado ao presente. Aliás, qualquer que fosse o momento bem definido no tempo, o universo nunca lá chegaria. Vamos pensar nisto de outra forma. Consideremos o conjunto Z dos números inteiros e atribuamos a cada dia (ou a cada segundo, ou cada ano, ou o que quisermos) um inteiro. Suponhamos que hoje é o dia zero. Se o universo sempre tivesse existido, a contagem para trás seria infinita. Mas começando a contagem no "-infinito", nunca chegaríamos ao dia zero. Confusos? Pois, eu também! Não posso dizer que fico completamente convencido por este argumento porque a minha mente tão limitada ameaça entrar em curto-circuito sempre que toco no infinito. Pensar demasiado neste assunto pode ter consequências graves, como no caso do matemático George Cantor. Mas pensar um bocadinho nestas coisas é extremamente divertido!!

2 comentários:

natenine disse...

"Um dos objectivos dos autores é convencer que é necessária mais fé para não acreditar em Deus do que para acreditar em Deus"

Percebo o que queres dizer e concordo, mas eu diria:

Um dos objectivos dos autores é convencer que é necessária mais fé para acreditar que Deus não existe do que para acreditar que Deus existe.

Visto que o ateísmo é também um conjunto de crenças. Um ateu não é uma pessoa que não crê, é uma pessoa que crê numa outra coisa. A fé não é coisa de teístas, a fé é coisa de humanos.

um abraço

David disse...

Tens razão, a tua frase é mais correcta. A diferença parece-me subtil, mas concordo que a tua está mais acertada. O que prova que a tua mente também é muito dedutiva!

abraço